A Breguice de “Homem-Aranha” (2002) é o que faz o filme incrível
Quem nunca assistiu a clássica trilogia do Homem-Aranha estrelada por Tobey Maguire e dirigida por Sam Raimi (Na verdade, muita gente, contudo isso não vem ao caso)? O primeiro filme foi lançado em 2002, há quase vinte anos, e é simplesmente um clássico. Para mim, inclusive, o melhor filme de origem de super-herói — menção honrosa ao ótimo “Batman Begins”, mas o Aranha sempre está no meu coração. Porém, tem uma coisa que nem muita gente fala: o filme é brega… entretanto, é isso que faz ele tão bom! Calma, eu vou explicar.
Em 2002, filmes de super-herói não eram tão populares, com exceção do primeiro longa dos X-Men, os do Superman e do Batman. Um filme do Homem-Aranha já estava querendo ver a luz do dia desde os anos 80 — um filme de verdade, não o seriado para TV dos anos 70. Contudo, a Marvel nunca conseguia fazê-lo sair apenas da cabeça de seus idealizadores. Inclusive, caso você não saiba, o escabroso roteiro do Aranha do James Cameron foi uma das últimas tentativas de trazer Peter Parker às telonas (sim, não foi a primeira!). O negócio era tão bizarro que tinha uma cena de sexo entre o herói e a Mary Jane, além dele ficar xingando por aí, sendo tipo um universo Ultimate piorado, sendo que essa série de quadrinhos nem existia na época, mas enfim.
Obviamente, esse filme nunca viu o nascer do Sol. É fácil achar o roteiro dessa bomba pela internet, e dando uma lida por cima já dá para ver que era um negócio meio duvidoso e uma péssima adaptação.
Foi então que, em 1999, finalmente começaram a produção do tão falado “Homem-Aranha”, o que nós conhecemos. A direção estava a cargo de Sam Raimi, muito conhecido pela trilogia “Evil Dead”. Em 2000, Tobey Maguire foi escalado como Peter Parker. Nesta época, eles ainda tinham a intenção de utilizar os amados lançadores-de-teia, entretanto isso foi descartado e adotaram as teias orgânicas, apresentadas primeiro no roteiro de Cameron.
Obs.:Os lançadores podem ser vistos explicitamente no trailer da E3 de 2001 (https://www.youtube.com/watch?v=uEBTAQiuODE). Também podemos ver um traje diferente, com lentes mais arredondas.
Além do nosso conhecido Tobias Maguila, Kirsten Dunst foi escalada como Mary Jane Watson, James Franco como Harry Osborn. Apesar de promissor, as pessoas ainda não acreditavam que o projeto daria certo, afinal, com tantos filmes cancelados e uma produção um tanto quanto conturbada, como esse filme seria bom?
Em maio de 2002, “Homem-Aranha” foi lançado e simplesmente explodiu. A direção de Sam Raimi somada a uma história sólida e fiel aos quadrinhos, garantiu um sucesso estrondoso. Podemos ver influências de filmes de terror (considerando que Sam Raimi é, acima de tudo, um diretor de terror), como uns jumpscares básicos, contudo, é um longa de super-herói. A origem do mais amado personagem da Marvel. Vemos desde a picada da aranha à morte do tio Ben.
Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades
Ao perceber o erro cometido, Peter Parker rapidamente se torna o herói que todos estamos familiarizados. O nosso cabeça-de-teia: o Homem-Aranha. E é a partir desse ponto que o filme fica brega… E FICA MAIS INCRÍVEL AINDA. O Tobias™ começa a impedir crimes por aí, começa a tirar fotos e vender pro Clarim Diário, tudo isso de uma maneira orgânica e com uma montagem e direção tão “quadrinhesca” que chega a assustar de tão perfeito. É também aí que começamos a ver nosso querido Power Ranger — digo, Duende Verde, em toda sua glória ameaçadora… e com sua máscara menos amedrontadora comparada àquela que gostariam de ter usado no filme.
Tudo fica melhor ainda com o plot do filme. Com relacionamentos tão humanos e bem-feitos, podemos ver que Raimi compreende a essência do personagem: ele é um ser-humano, e todos à sua volta também são. Ele erra, sente ciúmes, mas tenta ser o melhor que consegue.
Avançando um pouco no tempo, temos a nossa primeira batalha com o Duende Verde, lá no festival. Ele chega destruindo tudo, mata um pessoal, quase mata a Mary Jane, faz uma pedra cair na cabeça do filho, e por aí vai. Então chega o nosso herói, o Homem-Aranha, que aparece depois de uma das cenas mais bregas de todos os tempos. A garota simplesmente para, aponta e grita toda felizinha “É O HOMEM-ARANHA”, enquanto a desgraça tá acontecendo ao redor. Meu amigo, essa cena é incrível! A trilha-sonora, o heroísmo e tudo mais. É perfeita. É tão brega, mas tão brega, que é SENSACIONAL. O Homem-Aranha toma um soco do Duende e sai voando, bate num poste, que cai na cabeça de um cara aleatório. Ah, e antes disso ainda tem o moleque parado vendo o mundo acabar, então ele quase morre, no entanto, o Aranha o salva.
Pulando mais alguns momentos no tempo, podemos ver o Homem-Aranha fazendo uma piada o que, infelizmente, nesta trilogia, é um pouco raro, entretanto, todas são boas. O Jameson também mente dizendo que não conhece o fotógrafo que tira fotos do Homem-Aranha, assim “salvando” Peter.
O Duende faz uma uma proposta. Ele deseja que o Aranha junte-se à ele, pois uma batalha entre o bem e o mal acabaria com a morte de diversos inocentes.
Não importa tudo que faça por elas, elas te odiarão.
Jameson comanda o Clarim, jornal que detona o Homem-Aranha. Todos querem ele preso. Peter ganha pouco, vê a garota que ama namorando outro cara, tem um maníaco a solta na cidade… esse é um ponto complicado na vida do herói. Porém, após uma cena salvando a M.J. (de novo), rola o famoso beijo de cabeça para baixo. Tobey diz que foi o pior beijo da vida dele, e deve ter sido mesmo. Tava chovendo e tinha água entrando no nariz dele, fora que… isso é brega, hein? Cara, um beijo de ponta cabeça como forma de recompensa? CARAMBA. Essa cena é super-clássica, mas super-brega! E ELA É INCRÍVEL. Eu tô dizendo, esse filme é uma breguice maravilhosa.
Corta e tem a cena do incêndio. O Aranha resgata um bebê e ainda querem prender ele. Então, os personagens descobrem que há mais alguém preso no prédio, gerando o diálogo clássico:
— Eu vou entrar.
— Eu vou esperar você voltar!
— Eu não voltarei, seu guarda.
A maravilhosa trilha de Danny Elfman acompanha a cena, o Aranha entra no prédio pronto para resgatar uma idosa! Então… JUMPSCARE. Era o Sr. Duende.
Você está dentro ou fora?
Após a dona Aranha recusar a proposta do verdão, ele tenta matar o nosso herói… não consegue. O Homem-Aranha toma um corte que viria a prejudicar a vida dele depois. Daí, ele foge.
Chega então a famosa cena do Dia de Ação de Graças. Todos estão esperando o Peter chegar. Ele faz um barulho quando entra no quarto do apartamento e o pessoal vai verificar. Parker cai do teto, tira a máscara, a câmera vira e mostra o povo entrando no quarto e — ele some.
Que estranho. Não tem ninguém aqui.
O tema da trilogia toca, mas num modo mais suspense e de “preciso manter minha identidade secreta”.
Paraaaã ra raaaaaã
Infelizmente, a gota de sangue — aquela do corte que ele fez mais cedo — cai… e Norman ouve. Ele olha para o teto, porém não encontra nada. Ele olha para fora da janela, não tem nada… quer dizer, tem, porém embaixo de onde ele está.
Na hora de jantar, a tia May nota o corte, Peter dá uma desculpa, só que Osborn não acredita. O vilão pega o casaco, vai embora, Harry vai tentar argumentar, Norman xinga a Mary Jane. Harry fica pistola, porém não faz nada. M.J. vai embora também. O dia foi destruído por um corte no braço.
O Duende então decide usar o coração de Peter contra ele. O vilão ataca a tia May e quase mata a coitada do coração. Ela vai para o hospital enquanto berra “Aqueles olhos, aqueles terríveis olhos amarelos!”. Pete rapidamente nota que ele descobriu sua identidade secreta. Então começa o terceiro ato do filme. Uma das melhores partes de toda a trilogia.
Peter fica com a tia May quase o tempo todo (igual como o Peter dos quadrinhos faria). Mary Jane visita-os. Então rola uma quase confissão dele para ela. A garota se emociona, toca a mão dele e Harry chega bem na hora…
Harry Osborn chega em casa contando ao seu pai o que aconteceu. Ele diz que Peter ama Mary Jane há muito tempo, e Norman promete passar mais tempo com ele. Então se abraçam.
Um jumpscare do Duende acontece. “Acorda, aranhazinha”. Peter estava dormindo e a tia May estava o acordando, pedindo para ele ir para casa. Então rola uma conversa, ela afirma que todos sabem que ele gosta da Mary Jane. O herói se desespera, dizendo que já volta. Ele liga de um telefone público perguntando se M.J. está bem, contudo, quem atende é o Duende.
Onde ela está?
O Duende Verde está causando o caos na ponte. Mary Jane foi sequestrada. E cara, eu amo essa cena. Principalmente por causa da trilha-sonora.
Duende, o que é que você foi fazer?
O Incrível Homem-Aranha chega no local com toda sua agilidade aracnídea. O vilão diz “HOMEM-ARANHA! É POR ISSO QUE SÓ OS TOLOS SÃO HERÓIS! […]” (sim, vilões falam em caps. Por sinal, todo esse texto tá imitando o brega dos anos 60). Ele propõe a escolha: deixar a Mary Jane morrer ou “que sofram as criancinhas”. O Aranha salva todo mundo. Após a união dos nova iorquinos ajudarem o herói (cena muito importante, pois esse filme foi lançado fazia nem um ano do atentado às torres gêmeas).
O Duende então o laça e leva o aracnídeo para uma armazém abandonado. Após quase perder a luta, o herói dá a volta por cima e começa a espancar o vilão. Norman se revela, dizendo que não queria fazer nada daquilo, que foi forçado pelo Duende Verde à fazer aquilo. Ele diz que tem sido como um pai para o Peter, e pede para que ele seja um filho para ele, enquanto ativa o planador para matar o Aranha.
Eu tenho um pai. O nome dele era Ben Parker.
Peter Parker, o fenomenal herói aracnídeo, desvia com um salto mortal e sua agilidade proporcional à de uma aranha. O Duende morre com a lâmina do planador, então pede para que Parker não conte ao Harry.
Após levar o corpo de Norman para casa, o Homem-Aranha é visto por Harry. “O que você fez!?”. O herói desaparece, deixando um ar misterioso e novamente com a maravilhosa trilha de Danny Elfman
No funeral, Harry afirma que o Homem-Aranha vai pagar e agradece Peter por ser como família. Pete visita o túmulo do tio Ben, e então Mary Jane conta que o ama.
Tudo o que eu queria era dizer o quanto a amava.
Ele a rejeita, pois sabe que sua vida é perigosa.
Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. Esta é a minha dádiva. E a minha maldição.
Respondendo a pergunta feita no início do filme: “Quem sou eu? Quer mesmo saber?”, Peter Parker afirma “Eu sou o Homem-Aranha”.
O filme acaba com o balançar de teias e com um tema heroico.
Eu simplesmente amo esse filme com todas as minhas forças. Me introduziu ao personagem e sempre vai estar no meu coração. Ele foi feito com carinho, por gente que entende o personagem. E esse filme é brega. É muito brega… mas essa é uma das características mais especiais dele. O “ar noventista”, esperançoso e heroico que ele passa, é incrível.
No mais, essa foi minha análise de “Homem-Aranha”, filme de 2002 que é simplesmente o melhor filme de origem de super-herói, além de ser um dos melhores deste tipo. Fico grato quem leu até aqui. Até a próxima!