Carta Aberta
Um envolepe estava na caixa de correio, o lacre violado. O remetente estava rabiscado por uma tinta vermelha provavelmente originada de uma tinteiro; algo bem estranho de se fazer para ocultar um nome.
Não dei muita bola, mesmo que o nome do destinatário fosse homônimo ao meu. Não é como se este tipo específico de crime fosse incomum. Puxei a carta de dentro do envelope com um gesto de pinça da mão esquerda, então alinhei e segurei os papéis juntos com o indicador e dedo médio da direita. Talvez não o jeito mais prático de se ler uma carta, mas gosto de me sentir descolado.
Um grande nada. Que tipo de pessoa envia uma mensagem sem nada a dizer? Minha mente acabou por tornar-se um grande nada idêntico logo em seguida; exceto por ter muitas coisas a dizer, entretanto sem conseguir elaborar bem minhas ideias de forma sintética.
Voltei ao meu quarto desarrumado, colchão no chão; alguns pôsteres pendurados e uma televisão para momentos de sossego. Sentei na cadeira da minha escrivaninha e liguei o computador. Horas a fio matutei sobre a infeliz carta aberta; escrevi e reescrevi possibilidades para meus amigos que estavam on-line naquele instante.
“Certeza de que não foi você?”, eu perguntava sem parar apenas parece receber um mero “Sim”. Dei um tchau após cerca de três horas papeando. Tinha coisas importantes a fazer. Talvez o rabiscador tivesse roubado minha carta e substituído por um papel vazio. Seja como for, me deu algo a pensar que não fosse os problemas que já vivenciava.
A melhor conclusão para isso, evidentemente, era colocar o papel em um novo envelope e re-enviar para outra pobre alma curiosa. E foi o que fiz.