Déficit de Atenção — Parte III
Refletindo minha situação, de crocs, observei os carros e pedestres passarem por mim enojados.
Corri para a banca de jornais mais próxima, do outro lado da rua, a cerca de não sei quantos metros de distância. Entrei.
— Ei, o que você tá fazendo, jovem? — O jornaleiro me questionou assim que absorveu minha situação à medida que eu procurava materiais para improvisar um shorts.
— Torcendo pro Vasco da Gama. — Respondi, já irritado com a situação. — O que você acha, hein, cara? Eu quero me cobrir.
Ele me jogou dois jornais para cobrir minha frente e a retaguarda.
— Pô, valeu.
— Não é o primeiro tipo que vejo… mas e aí? Como o senhor vai pagar?
Pagar?!
— Se não puder me pagar, esse anel aí pode dar pro gasto.
Foi então que olhei para minha mão direita: o meu anel de compromisso. Ali soube que, além da dignidade, meu relacionamento tinha ido com o Vasco também.
Saí da banca.
A vizinhança não notava mais a minha cuequinha glamurosa. De fato, agora ela notava um rapaz com dois jornais presos por uma fita crepe, emprestada do jornaleiro, na cintura, como uma saia.
E então viralizei…