Déficit de Atenção — Parte IV
Eu estava de crocs em minha limusine.
— O senhor pode descer aqui. — Meu chofér disse, abrindo a porta do veículo.
— Muito obrigado, Titi.
— O prazer é todo meu, Sr. Crocs.
Assim que desci, uma multidão de jornalistas, fotógrafos profissionais e paparazzis apareceu, saído escondida de trás das moitas ao redor da minha mansão.
— Sr. Crocs, uma palavra para O Globo? — Perguntou um dos repórteres.
— Eu… — não consegui responder.
— Sr. Crocs, como se sente a respeito do lançamento do seu novo filme?
— Quem escalaram para me interpretar mesmo?
— Sr. Crocs, uma foto para a Folha!
Percebendo minha situação, o porteiro da minha moradia correu para me socorrer.
— Ele já respondeu muito. — Ele disse, me agarrando pelo braço. — Venha, senhor.
Eu me sentia um Beatle em plena Beatlemania. A multidão corria em minha direção conforme eu entrava em casa com meu porteiro. Tranquei a porta na cara dos malucos. A paz estava consumada, finalmente.
Por alguns segundos, silêncio. Então, meu porteiro diz:
— Parece cansando, senhor.
— Estou farto. Tudo aquilo aconteceu já faz uma semana. — Eu disse, suspirando. — Eu só quero trabalhar em paz.
— Pelo menos o senhor ficou conhecido como Sr. Crocs, não como o Porteiro Punheteiro graças ao depoimento de um infeliz para a polícia a fim de justificar seu comportamento bizarro em público. Eu estava só fazendo minhas unhas num feriado, ainda que sem calças ou cueca.
— Espera… feriado?
— Não sabia?
— Não, calma. Não era feriado, era… — parei e olhei o calendário do celular. — Puta merda, era feriado.
Olhei para o porteiro, incrédulo. Então notei:
— Espera… Roberto? Roberto das plantas?
— Robson, senhor. E elas eram plantas. — Ele disse, friamente.
— Cara, a gente devia formar uma banda.
“PUNHETA DE CROCS FAZ SUCESSO MUNDIAL”
Por: Leonardo Calado
FIM