Especial de Ano-Novo (e 50 postagens)
Nunca corri atrás daquilo que fugia, mesmo todos sabendo que esta é a melhor tática para escapar de um assassino em série. “Surpreenda o inimigo” eles dizem. E como o inimigo de um ano idoso é um ano novo, o que fazemos? Corremos atrás daquilo que virá com tudo para cima da gente independente do resultado das eleições anteriores. Um ano novo pode ser uma dádiva e uma maldição: uma maldição porque começa e você passa a refletir ainda mais suas escolhas de vida, e uma dádiva porque acaba e o jovem médio brasileiro finalmente pode questionar a si próprio se suas escolhas de vida. E valeu? Para alguns, vai depender do resultado da Mega-Sena da Virada.
O tempo é uma constante incerta em que fazemos de tudo para que manipular conforme nossas densas necessidades tornam-se presentes no barraco de esquina que chamamos de vida. E não me levem a mal, é uma moradia extremamente confortável quando não vira uma bagunça ainda maior pelas consequências de nossas ações ou de outrem, afinal, ganhamos e perdemos pessoas e não há como voltar atrás tão facilmente, pois o resultado da “Mega-Sena” sempre vai ser único e é impossível prevê-lo; há apenas sua hipótese em meio tantas outras de semelhantes que também correm contra o tempo para viver mais confortavelmente em seus barracos.
Quando o tempo acaba é como perder um amigo querido, figurativa ou literalmente. Em um momento podemos estar aproveitando o convívio com alguém que nunca imaginamos poder perder… e então, ele se vai. Ele pode ter vindo a falecer, se afastado ou mesmo fugido com um milhão de reais para o Canadá. Em dois desses casos ainda é possível vê-lo novamente, porém a constante incerta do tempo nos deixa loucos e passamos a contestar todas as nossas decisões tal como alguém duvidaria do resultado da Mega-Sena caso não tivesse ganho. Entretanto, o que realmente aconteceu, o que acontece e a inevitável morte são as únicas certezas que temos. Eu sinto muito por isso… mas quem sabe no ano que vem?
Talvez, em meio ao caos cotidiano, devêssemos fazer que nem o ano idoso e corrermos atrás daquilo que fugíamos por medo, insegurança ou ansiedade. O que não podemos é temer a incerteza. No fim das contas, o ano novo também só é certo de que irá envelhecer e acabar (e de que vai ter outra Mega-Sena da Virada).
Dedicado à Leonor Isabel de Carvalho, Maria Iracema de Campos, William Calado, Cristiane Saúde Guerreiro, Aline França Guerreiro, Yasmin Calado, Kailany de Medeiros, Cosmos Tobias de Aguiar, Maria Cristina Saúde Guerreiro, Carlos Alberto Guerreiro […] e mais uma infinidade de pessoas.