Família Scaloni — Parte III
— Por que o moço Corleone gostava de peixe? — indagou a garotinha para Francesco Rizzi enquanto comia um belo cheeseburger e tomava um suco de laranja. A notícia da invasão ao orfanato e seu incêndio passava na televisão da lanchonete.
Sentado na outra cadeira da mesa, Francesco Rizzi olhou para seu relógio de pulso prateado.
— Ele amava nadar.
— Moço, eu só me fingi de boba. Eu sei que ele morreu.
A resposta o pegou de surpresa, mas manteu a postura.
— ‘Cês são da máfia, né?
— O quê?
— Mamãe sempre dizia que a máfia matava gente que nem a polícia. Só que até agora não vi vocês matando ninguém, só morrendo.
Isso não assusta ela?, pensou o executor. Tá ficando mais interessante. Perguntou à garota sobre sua mãe; o que tinha acontecido e quem era seu pai.
— Mamãe morreu ano passado de câncer. Não conheci papai, ele foi embora antes de eu nascer. A tia Judy me acolheu no orfanato e tô lá desde então — tomou um gole do suco. — Mamãe conheceu muita gente, era muito sabida. Sinto falta dela.
Compadeceu-se botando a mão no ombro direito de Mary. Ela tirou.
— Relaxa, guria.
A garotinha parou de comer e olhou para Francesco nos olhos. Ela claramente era mais esperta do que ele pensava.
— ‘Cê não acha que vão buscar a gente, moço? — olhou para a televisão passando a notícia e apontou para o orfanato em chamas.
Porra, Thomas, pensou Rizzi. Precisava mesmo da invasão com molotov?
— O padrinho vai saber o que fazer.
Pediu a conta e pagou. Saíram para a rua movimentada rumo ao carro estacionado na outra calçada. Mary fazia perguntas aleatórias sobre a vida da máfia durante a viagem e Francesco respondia com o maior prazer, afinal, esta seria a nova vida da menina.
— Com sorte vou me tornar caporegime.
— ‘Cê tá gordo?
— Gor…? — pausou e, enfim, entendeu. — Ah, não! Não tem nada a ver com regime — ele disse rindo.
Ao chegarem na casa do Don foram direto ao escritório. O homem estava sentado na cadeira de sua escrivaninha, fazendo algumas anotações; sua imponência sempre impressionara Francesco.
— Não precisa me dizer nada. Já fiquei sabendo — o mafioso disse secamente. — Pelo menos está com a menina?
Mary Marino saiu de trás do executor. Don olhou para a garotinha e perguntou seu nome.
— Mary, Mary Marino! Ei, eu vi o senhor na tevê!
Don Scaloni se impressionou.
— É mesmo?
— Sim! Chamaram você de tudo quanto é coisa.
Ele riu.
— É?
— Sim! Falaram bem assim na entrevista: “Ele é um filho da…”
Francesco tapou a boca de Mary. Scaloni fez um sinal para que o homem o deixasse com sua nova filha.
— “…Mãe” — ela completou. — Eu acho que gostavam muito de você. Mães são legais.