Família Scaloni — Parte III

Leonardo Calado
3 min readDec 18, 2024

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— Por que o moço Corleone gostava de peixe? — indagou a garotinha para Francesco Rizzi enquanto comia um belo cheeseburger e tomava um suco de laranja. A notícia da invasão ao orfanato e seu incêndio passava na televisão da lanchonete.

Sentado na outra cadeira da mesa, Francesco Rizzi olhou para seu relógio de pulso prateado.

— Ele amava nadar.

— Moço, eu só me fingi de boba. Eu sei que ele morreu.

A resposta o pegou de surpresa, mas manteu a postura.

— ‘Cês são da máfia, né?

— O quê?

— Mamãe sempre dizia que a máfia matava gente que nem a polícia. Só que até agora não vi vocês matando ninguém, só morrendo.

Isso não assusta ela?, pensou o executor. Tá ficando mais interessante. Perguntou à garota sobre sua mãe; o que tinha acontecido e quem era seu pai.

— Mamãe morreu ano passado de câncer. Não conheci papai, ele foi embora antes de eu nascer. A tia Judy me acolheu no orfanato e tô lá desde então — tomou um gole do suco. — Mamãe conheceu muita gente, era muito sabida. Sinto falta dela.

Compadeceu-se botando a mão no ombro direito de Mary. Ela tirou.

— Relaxa, guria.

A garotinha parou de comer e olhou para Francesco nos olhos. Ela claramente era mais esperta do que ele pensava.

— ‘Cê não acha que vão buscar a gente, moço? — olhou para a televisão passando a notícia e apontou para o orfanato em chamas.

Porra, Thomas, pensou Rizzi. Precisava mesmo da invasão com molotov?

— O padrinho vai saber o que fazer.

Pediu a conta e pagou. Saíram para a rua movimentada rumo ao carro estacionado na outra calçada. Mary fazia perguntas aleatórias sobre a vida da máfia durante a viagem e Francesco respondia com o maior prazer, afinal, esta seria a nova vida da menina.

— Com sorte vou me tornar caporegime.

— ‘Cê tá gordo?

— Gor…? — pausou e, enfim, entendeu. — Ah, não! Não tem nada a ver com regime — ele disse rindo.

Ao chegarem na casa do Don foram direto ao escritório. O homem estava sentado na cadeira de sua escrivaninha, fazendo algumas anotações; sua imponência sempre impressionara Francesco.

— Não precisa me dizer nada. Já fiquei sabendo — o mafioso disse secamente. — Pelo menos está com a menina?

Mary Marino saiu de trás do executor. Don olhou para a garotinha e perguntou seu nome.

— Mary, Mary Marino! Ei, eu vi o senhor na tevê!

Don Scaloni se impressionou.

— É mesmo?

— Sim! Chamaram você de tudo quanto é coisa.

Ele riu.

— É?

— Sim! Falaram bem assim na entrevista: “Ele é um filho da…”

Francesco tapou a boca de Mary. Scaloni fez um sinal para que o homem o deixasse com sua nova filha.

— “…Mãe” — ela completou. — Eu acho que gostavam muito de você. Mães são legais.

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Written by Leonardo Calado

Tento escrever coisas engraçadas (as pessoas dizem que funciona).

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