Romance metafuncional

Lucas beijou Elise em uma sexta-feira de lua cheia na praça próxima à casa da garota. Outros casais — e alguns solteirões de gandaia — observavam a chuva de meteoros que acabara de iniciar. Os belíssimos corpos celestes incandescentes que invadiam a atmosfera terrestre um após o outro eram como os românticos que ali estavam: seres que, por vezes, reduziriam-se a faíscas ao entrar em contato com seu grande amor destrutivo.

— É tão lindo — disse Elise. Ela vestia um moletom e calça jeans devido ao frio da noite. Seu cabelo estava preso por um pompom. — Como é possível alguém ter uma visão tão bela assim?

Lucas assentiu e segurou a mão de seu par. Ele era um rapaz nervoso nos dois sentidos da palavra, porém carinhoso e preocupado como poucos. Elise gostava de sua sensibilidade e ele gostava da assertividade dela. Os amigos do casal viviam dizendo que um era o complemento do outro. Se eles possuíssem amigos estrangeiros poderiam, até mesmo, receber (compliments para complementar os “complementos” elogios) um trava-línguas que os deixaria envergonhados de demostrar seu afeto em público, mas os motivaria de travar suas línguas entre si depois de todo um parágrafo complementar de caracterização exacerbada de elogios.

Trocaram beijos novamente. Quando pararam, Lucas disse:

— Isso é tão pretensioso.

— O quê? — Elise questionou.

— Um bando de jovens olhando uma chuva de meteoros como se não estivessem no auge da globalização e não fossem ficar em casa vendo filmes.

Ela riu.

— Acho que o pretensioso é você. Quem fala assim? — colocou seu indicador na boca dele; um gesto de silêncio. — Só aproveita o romance, bobo. Não tem motivo pra neurar com isso.

— Tem razão…

Passaram o resto tempo ali, com os outros românticos e solteirões, apenas querendo o mais óbvio dos desejos.

— Isso podia durar para sempre — Lucas concluiu.

Então, a chuva parou.