Sonhos de uma Vívida Memória
— Sonhei com ela hoje. — Eu disse sem esboçar muito. Não queria transparecer minhas reações positivas quanto ao fato.
— É? E o que aconteceu? — Gabriel me perguntou.
— Foi bem vívido… — Pausei e refleti sobre o que estava prestes a dizer.
Estávamos em nosso ponto de encontro tradicional, em uma praça atrás da Avenida Vila Ema. São Paulo de novo, Zona Leste. Lar de alguns dos meus melhores momentos e de algumas das minhas piores neuroses; boa parte acontecidos ali, na Avenida Vila Ema.
Ela estava vestindo a camiseta que eu a dei de presente de aniversário e com o mesmo sorriso presente de todas as vezes em que ficávamos juntos vendo o anoitecer conversando por horas a fio.
Discutíamos algo sobre vida pós a morte, seguido por uma discussão calorosa do debate do momento, e então uma piada horrível de minha parte. Por algum motivo ela sempre apreciou isso.
Saindo de lá, fomos a uma sorveteria em outro canto da cidade, mais como forma de gastar mais tempo juntos do que por conveniência. Então chegamos e ela pediu um milkshake e eu uma casquinha. Tiramos fotos e andamos até o cinema a fim de ver o filme mais badalado do momento; sem pensar muito, pegamos a sessão mais próxima, mesmo que com os piores lugares disponíveis.
Após assistirmos, caminhamos até a estação de metrô, cada um seguindo para um canto. E como em um filme, ela se desfez ao meu acordar.
Era tão vívido. O dia podia nunca ter acabado. E de certa forma não acabou. Claro que não contei isso ao Gabriel.
— Mas isso já foi há muito tempo. Não importa muito. Conta de ti — eu concluí.
O que são sonhos senão memórias inventadas?